domingo, 13 de fevereiro de 2011

JEREMIAS O MENINO SONHADOR


Vanderléia Aguiar estreou com sucesso nas letras com o livro de poesias AMOR EM LUZ E SOMBRA. Volta agora com esta obra de ficção que nos mostra outra face de seu talento literário.
Trata-se de uma novela ou romance curto. Tema centrado em região muito pobre do Brasil, tanto economicamente quanto de alcance civilizatório. Resquícios feudais que ainda persistem entre nós, embora a presença do rádio e da televisão,que lá chegam mal e mal. Traz ela ao vivo uma comunidade humilde e desasistida, dentro deste desnivelamento social em que vivemos.
Mas se a pequena cidade é o centro da trama, a personagem principal Jeremias, quase menino ainda, poeta de alma e de destino, é a vela votiva que conduz todo o labirinto da história. Em si, uma história aparentemente simples. Jeremias vive na lida, no trabalho pesado do campo, de patrão sem alma, para mal e mal comer e sustentar a mãe viúva e os irmãos menores. E como a poesia é seu sinal sensível, em tudo e por tudo é em torno dela que direciona o seu destino, particularmente quando toma cohecimento de um concurso de poesias em rádio de uma cidade próxima.
Os caminhos para alcançar a vitória, essa vitória praticamente inalcançável, não são nada fáceis, porque a autora traz um belo jogo de realidade e fantasia que o leitor atento dele mal se apercebe. Ou seja: a história toma direções várias, onde entram intrigas, crime, o sublime amor pela doce Margarida por parte do poeta, e que lhe foge sempre, num vai e vem lúdico, além das aflições familiares, uma série de acidentes, enfim, como se toda novela, embora bastante realista, não fosse mais do que uma poesia solta ao vento… A vitória espetacular de Jeremias e suas consequências conduzem o leitor aos céus e o fazem descer à terra em plena perplexidade.
Vem a relevo, numa emanação doída e fotográfica, a vida da comunidade, através, particularmente dos diálogos rápidos, verdadeiro documento da fala quase dialetal da região. O psicológico envolve-se com palpitações de grande sofrimento dos que estão embaixo em contraposição aos poucos que estão por cima. É uma lançadeira. Pouco vimos um autor ( ou autora) contar tanto de uma cidadezinha perdida em tão poucas páginas, sem se afastar das aspirações líricas que permeiam toda a história.
Jeremias e, por extensão, Margarida, sem citar todas as outras personagens que não são poucas, dão o tom e o tônus do enredo: ele com seus eterno enlevos poéticos, ela vítima do destino adverso.
Vanderléia Aguiar foi muito feliz no andamento da trama até o inesperado do final. Além do que, para além da leveza, levanta-se sem pretensões, uma denúncia permanente e indireta às condições de vida de toda uma comunidade desvalida.
Por outro lado, palpita aqui a fé maior na criação literária, na poesia em particular, sem que o homem materializado e desnorteado como vive, perca a perspectiva da razão da própria vida.
O ponto final deste belo trabalho é um achado da melhor qualidade de criação literária. Livro para ser lido, palpitar com ele,por a mão na consciência, e concluir que Jeremias é um símblo, tal qual muitos outros símbolos, como ele, perdidos no esquecimento por este país afora.

Caio Porfírio Carneiro- crítico literário.

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