sábado, 17 de novembro de 2012

Hiro, o grande guerreiro! ( páginas 1~2)





Às margens de um riacho, protegido por uma pequena floresta silenciosa, uma mulher faz oferenda aos deuses japoneses, com o propósito de dar a luz a um menino.
Ela e o marido viviam tempos difíceis. O casal vivia da agricultura e nos últimos anos o que colhiam mal dava para o sustento dos dois.
Moravam em uma região de solo fértil. Entretanto, nos últimos anos, toda a colheita do casal era saqueada pelos demônios que assombravam a região. O marido, Sr. Saburo, já estava velho demais para lutar com os demônios e assim proteger a colheita. E um filho com certeza mudaria toda aquela história de horror em que se encontravam.
A gravidez acontecia num momento tardio.  A idade da mulher não lhe dava estrutura física para carregar uma gravidez. Mas isso não a preocupava. Sabia que o filho era um presente dos deuses.
Orações e promessas se perdiam no meio da floresta silenciosa. A Sra. Akemi acreditava que seus pedidos seriam ouvidos pelos deuses do universo e dentro de alguns meses poderia dar à luz a um menino forte o suficiente para defender sua família de todos os demônios.
Enquanto ela rezava o marido produzia pipas coloridas para enfeitar o céu em homenagem ao nascimento do filho. Ele nasceria. E quando chegasse o momento o céu deveria estar enfeitado de alegria.
O que o povo da aldeia achava loucura eles consideravam fé e gratidão.
Dentro da floresta, o Menino Perdido, um pequeno adolescente de corpo franzino, podia ouvir o clamor daquela mãe aflita. Ele também estava aflito. Havia se encontrado naquele lugar onde a luz do sol só podia ser vista após o menino superar todos os obstáculos encontrados na floresta silenciosa.
O tempo ia passando e todos os dias eram noites. Noites e noites nebulosas e silenciosas. Nada se encontrava. Os obstáculos a serem encontrados não aconteciam e Menino Perdido, assustado, procurava desesperadamente a saída daquele lugar que lhe arrepiava a alma.
O choro da mulher ecoava na floresta.
O Menino Perdido corria entre as árvores, num desejo profundo de encontrar aquela mulher. Aos poucos, o choro cessou e o menino, exausto, sentou-se sob uma arvore de cerejeira em flor.
O que fazer? Não sabia! Só sabia que teria que sair dali. Procurar suas origens e voltar para casa. Em algum lugar ele teria uma família.
Perdido em questionamentos ali mesmo adormeceu. Acordou com um barulho esquisito. O mais estranho, é que, até então, nunca ouvira nenhum tipo de ruído naquela floresta. Exceto aquele choro da mulher clamando pelo filho ainda em seu ventre.
O Menino Perdido levantou-se, reclamou da dor nas costas causada pelo mau jeito em que dormira. Caminhou devagar em direção ao ruído, empunhando um pedaço de madeira, pronto para se defender se fosse necessário.
A fome que sentia também era muito grande.
A neblina consumia a floresta, impedindo assim que o menino tivesse uma visão a longa distância.
De repente, o Menino Perdido se depara com uma pequena multidão que brigava entre si. Ele ficou profundamente feliz. Havia finalmente encontrado a saída.
Uma mesa farta de alimentos podia ser vista e alcançada por ele. A briga entre aquelas pessoas era justamente para poder comer.
O Menino Perdido não conseguia compreender o motivo daquela desavença toda. Se o alimento estava ali por que não comê-lo?
Eis que um jovem se aproxima no momento em que o menino, perdido de fome, toca num bolinho de arroz.
- Não toque no alimento.
- Estou com fome.
- Todos estamos.
- E por que não se alimentam? - pergunta.
- O deus da fartura nos concedeu esta mesa, mas só podemos nos alimentar com esses hashis. – disse, apontando para um hashi com quase dois metros de comprimento.
- E por que estão brigando? Não seria mais fácil tentar por o alimento na boca?
- Se você acha fácil levar o alimento à boca com esse hashi profundamente longo, tente! – desafia.
- Se vocês não conseguirem por o alimento na boca, o que acontece? - indaga o Menino Perdido.
- Nunca mais teremos colheita. Viramos mendigos da floresta e aqui será nossa eternidade.
O Menino Perdido ouve tudo em silêncio.
- Não foi o deus da fartura quem lhes entregou esta mesa. - declara.
- Quem é você? Um mendigo da floresta? Você não é da nossa comunidade, portanto, cale-se! Nossos mestres estão tentando desvendar o mistério...
- Eles estão se matando! - diz o Menino, observando os homens trocarem socos e pontapés. - E mais; eu não sou mendigo, apenas me perdi aqui. Mas agora creio que encontrei a saída.
- Ninguém é enviado à floresta gratuitamente. Alguma coisa você fez para estar aqui ou terá que fazer para sair.
- Você quer dizer que tenho uma missão?
- Somente duas situações nos transportam a essa floresta.
- Pode me dizer quais?
- A condenação, ou a preparação.
- Não entendi. Sou apenas um menino, como poderia ser condenado?
Os olhos assustados do Menino Perdido põem o outro jovem a gargalhadas.

domingo, 4 de novembro de 2012

Canção do amor!


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Hiro, O GRANDE GUERREIRO

Um grande guerreiro não precisa de coisas pequenas para se sentir grande.
Ele precisa de coisas grandes para se sentir maior!


O MITO E A REALIDADE

                O título deste livro diz muito, da essência fascinante e mítica da história às irradiações poéticas nascidas dela. Uma bela síntese do universo lendário Oriental, com seus deuses e tradições que se corporificam e se emblematizam no menino Hiro, que, ao nascer para a vida, adquire unção quase divinatória de guerreiro de dimensão cósmica. É uma fantasia humana e pulsante, fugindo sempre da alegoria fácil e corporificando-se em alcance palpável de pleno realismo impressionista e poético.
                Não é fácil trazer a relevo tema desta natureza. A autora, que viveu muitos anos em país oriental, conhece de perto os costumes e os mitos quase divinatórios da região. Todavia, valendo-se da sua habilidade e talento, não direcionou a obra para o caminho da reportagem ou do ensaio. Valendo-se de personagem menino, tendo por geografia uma floresta, traz ao vivo uma sucessão continuada de surpresas míticas, que encanta e seduz qualquer leitor.
                A autora transpõe praticamente todo o texto para o campo das falas, uma dialogação intensa às surpresas continuadas, na fulguração da rica magia oriental.
                Não há como contar a história de Hiro, mas há como permanentemente senti-la. São muitas as veredas e vertentes, de símbolos,  magias e deuses, e levam o leitor a viver também essa bela, rica e multissecular tradição mitológica, vivamente plantada na realidade.
                Parece filme em preto e branco, que adquire no “caminhar” de Hiro, belezas de terceira dimensão. E se vê que a arte escrita adquire vida plena, para além das fantasias e mitos, quando nascida do talento de uma escritora deste nível.
                Do começo ao fim esta “fantasia” fascinante vai se transmutando de mito em realidade. E o final é de uma beleza única e surpreendente. O “mundo secreto” de Hiro se transfigura em quase prece ou hino de pulsante sensibilidade humana, num despertar mágico e real para a plenitude da Vida.
                                                                                              Caio Porfírio Carneiro
Escritor, Crítico Literário, Conselheiro da União Brasileira de Escritores

domingo, 13 de fevereiro de 2011

JEREMIAS O MENINO SONHADOR


Vanderléia Aguiar estreou com sucesso nas letras com o livro de poesias AMOR EM LUZ E SOMBRA. Volta agora com esta obra de ficção que nos mostra outra face de seu talento literário.
Trata-se de uma novela ou romance curto. Tema centrado em região muito pobre do Brasil, tanto economicamente quanto de alcance civilizatório. Resquícios feudais que ainda persistem entre nós, embora a presença do rádio e da televisão,que lá chegam mal e mal. Traz ela ao vivo uma comunidade humilde e desasistida, dentro deste desnivelamento social em que vivemos.
Mas se a pequena cidade é o centro da trama, a personagem principal Jeremias, quase menino ainda, poeta de alma e de destino, é a vela votiva que conduz todo o labirinto da história. Em si, uma história aparentemente simples. Jeremias vive na lida, no trabalho pesado do campo, de patrão sem alma, para mal e mal comer e sustentar a mãe viúva e os irmãos menores. E como a poesia é seu sinal sensível, em tudo e por tudo é em torno dela que direciona o seu destino, particularmente quando toma cohecimento de um concurso de poesias em rádio de uma cidade próxima.
Os caminhos para alcançar a vitória, essa vitória praticamente inalcançável, não são nada fáceis, porque a autora traz um belo jogo de realidade e fantasia que o leitor atento dele mal se apercebe. Ou seja: a história toma direções várias, onde entram intrigas, crime, o sublime amor pela doce Margarida por parte do poeta, e que lhe foge sempre, num vai e vem lúdico, além das aflições familiares, uma série de acidentes, enfim, como se toda novela, embora bastante realista, não fosse mais do que uma poesia solta ao vento… A vitória espetacular de Jeremias e suas consequências conduzem o leitor aos céus e o fazem descer à terra em plena perplexidade.
Vem a relevo, numa emanação doída e fotográfica, a vida da comunidade, através, particularmente dos diálogos rápidos, verdadeiro documento da fala quase dialetal da região. O psicológico envolve-se com palpitações de grande sofrimento dos que estão embaixo em contraposição aos poucos que estão por cima. É uma lançadeira. Pouco vimos um autor ( ou autora) contar tanto de uma cidadezinha perdida em tão poucas páginas, sem se afastar das aspirações líricas que permeiam toda a história.
Jeremias e, por extensão, Margarida, sem citar todas as outras personagens que não são poucas, dão o tom e o tônus do enredo: ele com seus eterno enlevos poéticos, ela vítima do destino adverso.
Vanderléia Aguiar foi muito feliz no andamento da trama até o inesperado do final. Além do que, para além da leveza, levanta-se sem pretensões, uma denúncia permanente e indireta às condições de vida de toda uma comunidade desvalida.
Por outro lado, palpita aqui a fé maior na criação literária, na poesia em particular, sem que o homem materializado e desnorteado como vive, perca a perspectiva da razão da própria vida.
O ponto final deste belo trabalho é um achado da melhor qualidade de criação literária. Livro para ser lido, palpitar com ele,por a mão na consciência, e concluir que Jeremias é um símblo, tal qual muitos outros símbolos, como ele, perdidos no esquecimento por este país afora.

Caio Porfírio Carneiro- crítico literário.